Carlos, sossegue!
o amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo.
E segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate!
reserve-se todo para as bodas
que ninguém sabe quando virão, se é que virão!
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você, e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável! rezas, vitrolas,
santos que se persignam, anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe de quê, pra quê.
Entretanto você caminha melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro, é sempre triste,
meu filho, Carlos, mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe, nem saberá!
(Carlos Drummond de Andrade)
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